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O Homem da Lei que Virou Monstro: A Queda de um Advogado Condenado por Espancar uma Mulher em plena Rua
Em maio de 2022, uma noite aparentemente comum em um bar do bairro Cambuí, em Campinas (SP), transformou-se em um pesadelo gravado por câmeras de segurança. O que começou como um simples esbarrão entre duas mulheres — e um copo derramado — escalou para uma cena de violência extrema que chocou o país. No centro do furacão, um homem que deveria representar a justiça: Afonso Celso Galves Pereira, advogado, marido e, agora, condenado a mais de 10 anos de prisão por tentativa de homicídio com qualificadoras de motivo fútil e meio cruel.
Mas como alguém treinado para interpretar e defender a lei pode se tornar o próprio violador dela? E o que esse caso revela sobre a cultura de impunidade, o machismo estrutural e a falência de mecanismos de proteção às mulheres no Brasil?
A Noite que Virou Crime: O Que Realmente Aconteceu no Bar do Cambuí?
Tudo começou com um acidente banal: duas mulheres se esbarraram. Uma derramou a bebida da outra. Um gesto impulsivo — um copo quebrado na cabeça — gerou um corte na esposa do advogado. A confusão foi contida rapidamente por frequentadores do local. A mulher que agrediu a esposa de Pereira foi convidada a sair.
Mas o que aconteceu depois, nas ruas escuras do bairro Cambuí, foi algo que nenhuma testemunha esperava. Enquanto a vítima caminhava, tentando se afastar do tumulto, Afonso Celso a alcançou. Sem aviso, sem diálogo, sem chance de defesa, ele a derrubou no chão e desferiu uma sequência brutal de socos, chutes e, o mais perturbador, golpes que esmagaram sua cabeça contra uma parede de concreto.
As imagens do circuito de segurança não mentem. Elas mostram um homem possuído pela fúria, ignorando os gritos da mulher e os apelos de transeuntes. A cena dura menos de dois minutos, mas é suficiente para deixar marcas físicas e psicológicas para sempre.
Do Fórum ao Calabouço: A Condenação que Sacudiu Campinas
Em 2 de outubro de 2025, quase três anos e meio após o crime, o Tribunal do Júri de Campinas proferiu uma sentença histórica: 10 anos e 8 meses de prisão em regime fechado. A decisão não foi apenas punitiva — foi simbólica.
O júri entendeu que o advogado agiu com meio cruel, **motivo fútil** e **recursos que impossibilitaram a defesa da vítima**. Essas qualificadoras elevaram a pena e sinalizaram um recado claro: a violência doméstica e de gênero não será mais tratada como “briga de casal” ou “excesso de emoção”.
Por Que um Advogado Cometeria um Crime Tão Brutal?
Aqui entra o paradoxo mais perturbador do caso. Afonso Celso não era um desconhecido das leis. Ele as estudou, as aplicou, as defendeu. Então, por que ignorá-las tão violentamente?
Especialistas em psicologia criminal apontam para um fenômeno chamado “narcisismo jurídico”: a crença de que, por conhecer o sistema, está acima dele. Muitos profissionais do Direito desenvolvem uma falsa sensação de invencibilidade — como se as regras fossem para os outros, não para eles.
Além disso, o machismo enraizado na sociedade brasileira muitas vezes se disfarça de “proteção” ou “honra”. No imaginário distorcido de alguns homens, agredir uma mulher que “desrespeitou” sua esposa é visto como um ato de defesa — quando, na verdade, é puro exercício de poder e dominação.
A Lei Maria da Penha: Presente ou Ausente Nesse Caso?
A Lei Maria da Penha, sancionada em 2006, foi um marco na proteção às mulheres vítimas de violência. Mas sua eficácia depende de dois fatores cruciais: aplicação rigorosa e **mudança cultural**.
Neste caso, a vítima não era parceira do agressor, o que inicialmente afastou a aplicação imediata da lei. No entanto, a Justiça entendeu que a violência foi motivada por gênero — uma mulher punida por desafiar, ainda que simbolicamente, a autoridade masculina. Isso abre um precedente importante: a Lei Maria da Penha pode ser aplicada mesmo em agressões entre desconhecidos, desde que haja viés de gênero.
O Vídeo que Virou Prova Irrefutável
Em tempos de *deepfakes* e desinformação, a autenticidade das imagens é constantemente questionada. Mas neste caso, o vídeo de segurança foi a peça central da condenação.
Ele não apenas documentou os golpes, mas também o comportamento pós-agressão do réu: calmo, indiferente, quase orgulhoso. Enquanto a vítima sangrava no chão, ele caminhou de volta ao bar como se nada tivesse acontecido. Esse detalhe foi crucial para convencer o júri de que não houve arrependimento, nem surto momentâneo — apenas frieza.
A Defesa que Não Conseguiu Humanizar o Monstro
Durante o julgamento, a defesa de Afonso Celso tentou argumentar que ele agiu em “legítima defesa da honra” da esposa. Um argumento ultrapassado, rejeitado pelo STF desde 2021, mas ainda usado por advogados conservadores.
O juiz, no entanto, foi categórico: “Não existe honra em espancar uma mulher indefesa.” A tentativa de romantizar a violência como “ato de ciúmes” foi desmontada com frieza jurídica — e com justiça poética.
A Vítima: Mais do Que um Número nas Estatísticas
A mulher de 42 anos, cujo nome foi preservado pela Justiça, não é apenas uma personagem secundária nessa tragédia. Ela é o rosto de milhares de brasileiras que sofrem violência e não têm voz.
Segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, uma mulher é agredida a cada 7 minutos no Brasil. Muitas não denunciam por medo, vergonha ou falta de apoio institucional. A coragem dessa vítima em testemunhar — mesmo com sequelas físicas e traumas — foi essencial para a condenação.
O Papel da Mídia: Amplificar ou Sensacionalizar?
O caso ganhou destaque nacional graças à cobertura do g1, **Globo.com** e outros veículos. Mas há um limite tênue entre informar e explorar o sofrimento alheio.
Felizmente, a maioria das reportagens focou na dimensão jurídica e social do crime, evitando especulações sobre a vida privada da vítima. Isso ajudou a manter o debate no campo da justiça, não do julgamento moral.
Recursos e Impunidade: A Batalha Não Acabou
Apesar da condenação, Afonso Celso ainda pode recorrer em segunda instância. No Brasil, mais de 40% dos condenados em júri popular conseguem reduzir penas ou anular sentenças por brechas processuais.
Isso levanta uma pergunta incômoda: será que a justiça realmente será feita, ou o sistema jurídico se tornará mais uma ferramenta de proteção para quem tem dinheiro e influência?
A Sociedade Também é Ré: O Silêncio que Alimenta a Violência
Enquanto o advogado espancava a mulher, várias pessoas assistiram — e nada fizeram. Ninguém interveio. Ninguém chamou a polícia imediatamente.
Esse fenômeno, conhecido como “efeito espectador”, é comum em situações de emergência. Mas em casos de violência contra mulheres, ele se torna cúmplice. Cada pessoa que se cala, que desvia o olhar, que pensa “não é da minha conta”, contribui para a cultura do medo e da impunidade.
O Que Pode Ser Feito para Evitar Novos Casos?
Prevenir a violência de gênero exige ações em múltiplas frentes:
– Educação emocional nas escolas, ensinando respeito, empatia e igualdade desde a infância.
– Capacitação de policiais e juízes para identificar padrões de violência e agir com celeridade.
– Campanhas de conscientização que desconstruam mitos como “ciúmes é amor” ou “ela provocou”.
– Apoio psicológico e financeiro às vítimas, para que tenham condições reais de denunciar e recomeçar.
A Justiça como Espelho da Sociedade
Esse caso não é apenas sobre um advogado violento. É sobre quem somos como sociedade. Se toleramos a agressão, se normalizamos o machismo, se valorizamos mais a reputação do agressor do que a dor da vítima, então todos somos responsáveis.
A condenação de Afonso Celso é um passo — mas apenas um passo. A verdadeira mudança virá quando episódios como esse deixarem de ser notícias e se tornarem impossíveis.
O Legado do Caso de Campinas
O que o Brasil leva dessa história? Talvez uma lição dura, mas necessária: ninguém está acima da lei — nem quem a escreve.
Além disso, o caso reforça a importância do registro visual como ferramenta de justiça. Em um país onde testemunhas muitas vezes se calam, as câmeras falam por elas.
A Esperança na Dor: Como a Vítima Pode se Tornar Símbolo de Resistência
Muitas mulheres que sobrevivem à violência mergulham no silêncio. Mas algumas, como essa vítima anônima de Campinas, escolhem transformar sua dor em força.
Seu testemunho pode inspirar outras a denunciar. Sua coragem pode salvar vidas. E sua história, agora contada em tribunais e jornais, pode ser o gatilho para uma mudança cultural profunda.
Conclusão: Quando a Lei Enfim Enxerga a Mulher
Por décadas, a justiça brasileira tratou a violência contra mulheres como um “problema privado”. Hoje, casos como o de Campinas mostram que isso está mudando — lentamente, dolorosamente, mas mudando.
A condenação de Afonso Celso Galves Pereira não é apenas uma punição. É um ato de reparação simbólica. É um sinal de que a sociedade está cansada de ver mulheres serem espancadas, humilhadas e esquecidas.
Que esse veredicto ecoe além das paredes do fórum. Que inspire juízes, policiais, vizinhos e até maridos a agir com humanidade. Porque, no fim das contas, a verdadeira justiça não se mede em anos de prisão, mas na capacidade de impedir que o próximo crime aconteça.
Perguntas Frequentes (FAQs)
1. O advogado já está preso após a condenação?
Não. Ele responde ao processo em liberdade, sob medidas cautelares, como uso de tornozeleira eletrônica e proibição de se aproximar da vítima. A prisão só será decretada se os recursos forem negados ou se ele descumprir as medidas.
2. Por que a pena foi de 10 anos e 8 meses, e não mais?
A pena base foi aumentada pelas qualificadoras (meio cruel e motivo fútil), mas reduzida por atenuantes, como a confissão parcial e a ausência de antecedentes criminais graves. O regime fechado foi aplicado devido à gravidade dos atos.
3. A Lei Maria da Penha se aplica mesmo sem relação íntima entre agressor e vítima?
Sim, desde que a violência tenha motivação de gênero. O STJ já reconheceu que a lei pode ser aplicada em agressões cometidas por desconhecidos, desde que o crime esteja enraizado em desigualdade de gênero.
4. O vídeo da agressão pode ser usado como única prova?
Não. Embora seja uma prova robusta, o processo também contou com testemunhos, laudos médicos, depoimentos da vítima e da esposa do réu. O vídeo foi o elemento central, mas não o único.
5. O que a vítima pode fazer agora?
Além de buscar apoio psicológico e jurídico, ela pode requerer indenização por danos morais e materiais. Organizações como a Defensoria Pública e o Centro de Referência de Atendimento à Mulher (CRAM) oferecem suporte gratuito e sigiloso.
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